quarta-feira, 5 de maio de 2010

13 de maio: um reencontro entre Brasil e África

A África não é somente um território primitivo, habitado por tribos famintas e animais selvagens, como o ocidente gosta de imaginar.
As grandes cidades africanas, com seus milhões de habitantes, misturam tradição e tecnologia de maneira inédita. Sendo parte da mídia internacional, o continente negro não poderia se furtar à modernização.
A modernidade não destrói s antigas tradições, mas as combina com novas informações, pois ninguém tem mais tempo para lamentar a perda de um mundo tradicional.
As tradições africanas atravessaram o Atlântico pela primeira vez a bordo dos navios negreiros, numa época em que Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Prícipe e o Brasil eram colônias portuguesas. Assim como o índio brasileiro, o negro africano começa a perder sua identidade cultural à medida que vai arbitrariamente assimilando os costumes do europeu. E é da união destes três povos que se origina a cultura brasileira.
Embora escravizado e oprimido, o negro africano contribuiu demasiadamente para a formação cultural do nosso país. Temos influência africana no vocabulário, na alimentação, no vestuário e em outros inumeráveis setores. Nas artes sobresaem a dança, a música e, atualmente a arte dos "griôs", ou a arte da oralidade. É natural do africano a arte de contar histórias, e chama-se "Griot" aquele que reúne pessoas a volta da fogueira para contar histórias de seus ancestrais ou lendas e mitos de seu povo. Geralmente esta função é atribuída ao velho, indivíduo mais respeitado da "sanzala", por concentrar grande quantidade de experiências.
Em 1836, a Inglaterra fez Portugal assinar a abolição da escravatura em Angola, mas, clandestinamente, o tráfico continuou até 1888, quando, a 13 de maio, a Princesa Isabel, que substituía provisoriamente o Imperador, assinou a Lei Áurea, que acabava com a escravidão no Brasil.
Após a guerra colonial, "as Áfricas" ficaram fragmentadas. Os países africanos de língua portuguesa encontram-se em uma difícil situação político-sócio-econômica, mas mantêm o nacionalismo e buscam incansavelmente a sua identidade. Hoje, encontramos na África grandes profissionais de áreas afins. Na literatura, destacam-se, entre outros, Pepetela, Mia Couto, Germano Almeida, Vera Duarte, Dina Salustio. Suas obras retratam o encontro com o povo, com sua tradições, seus costumes e o fortalecimento cultural com o advento da modernidade. Enquanto isso, o Brasil, país multirracial, desfila sopros de ariano. E qual é a posição do negro na sociedade? Continua estereotipado e discriminado num país onde não há pureza racial. Embora estejamos divididos em grupos, não podemos nos esquecer de que somos todos frutos da miscigenação de três povos. Portanto, não somos brancos, negros ou amarelos. Somos verdadeiramente mestiços.
Em 13 de maio de 1997, a abolição da escravatura no Brasil completa 109 anos. Tendo em vista as condições sociais e humanas, nos cabe refletir sobre o processo de aculturação que o Brasil vem sofrendo. Deixamos de lado nossas tradições, nossos mitos, nossas lendas e assimilamos a cultura do "outro".
O negro passa por um processo gradativo de embranquecimento, e a grande massa, de americanismo. A Lei Áurea foi assinada, mas continuamos todos escravos e colonizados. Não precisamos de uma nova atitude abolicionista. Necessitamos do que Machado de Assis chamou de "sentimento íntimo" para nos tornarmos um pouco mais brasileiros.
Haroldo Hipolito da Costa Junior
Publicado no jornal Rio de Luz em maio de 1997

Um comentário:

  1. Amei o texto , a Africa não tem só defeitos ... a paisagem dela é linda ! e não é muito divulgado isso ..

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