quarta-feira, 26 de maio de 2010

Adélia Prado

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

uma espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrvo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

- dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

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